segunda-feira, 1 de junho de 2015

O Anticristo, por Friedrich Nietzsche

     Observação:
   Procuro em minhas resenhas demonstrar verdadeiramente o que o autor quis mostrar ao se expressar no livro. Peço que, portanto, ao lerem esta resenha não pensem que usei termos chulos ou pensamentos diferentes dos que o autor apresentou em sua obra.
   Portanto, meus caros, ficará para vocês decidirem se esse gênio da filosofia mudou para bem ou para o mal nosso mundo atual.


     Talvez ele tenha sido um dos homens mais odiados do mundo, ou até mesmo com uma das filosofias mais complexas de se entender, mas não se pode negar que Friedrich Nietzsche teve uma das mentes mais brilhantes da história da humanidade.
     Esse filósofo alemão, que viveu na segunda metade do século XIX, veio para, como ele mesmo dizia, “desconstruir os ideais”. Com uma filosofia pulsante, que hoje seria rejeitada por cerca de 90% da população mundial, ele, sem medo algum, bota pra fora tudo que vem em sua mente. Sem alguma espécie de organização, tanto na forma de pensamento quanto na forma textual, ele sem medo algum “excreta” todo seu ódio contra o que ele chama de Ídolos.
     Para fazer a resenha do livro O Anticristo, de Nietzsche, é preciso, antes de tudo, saber algumas coisas que precisam ficar claras aqui, neste momento, porque se você não entender o que irei acabar de dizer vai ser praticamente impossível você entender sua obra. Não só Anticristo, mas TODAS as obras de Nietzsche, porque ele, diferente de todos os outros filósofos da humanidade, não escreveu um livro para cada pensamento que ele tinha, como por exemplo, fez Aristóteles ao escrever Retórica para explicar argumentação, Política para explicar a política, ou Ética a Nicômaco para fundamentar sua Ética.
     Nietzsche, ao contrário, em todos os livros que escreveu está presente todos os tipos de seu pensamento. Um pensamento difícil de entender e que jorra ideias vindas ao exato momento em que Nietzsche escrevia seus livros. Seus livros não possuem capítulos ou qualquer espécie de organização, e é exatamente por isso que temos que saber seus pensamentos antes de apresentar suas obras.
     A primeira, e única que serei capaz de apresentar a vocês, é sua ideia do que é uma pessoa Niilista, ou do que, para ele, é o Niilismo.
     Se, por exemplo, perguntássemos a qualquer pessoa a definição de Niilismo, essa pessoa responderia que é a Negação da Crença, ou a Negação de Valores Superiores. Portanto, o Niilismo para o senso comum, e quando digo senso comum, não estou desvalorizando essa definição, é a negação da crença a algo superior. Poderíamos dizer, portanto, que essa definição é um Eufemismo para se dizer que o Niilismo é Não Crença em Deus.
     Pois bem... Para Nietzsche, Niilismo é algo mais profundo. Ele considera como Niilistas os Ídolos que ele expõe em seu livro Crepúsculo dos Ídolos, ou seja, aqueles que pautam sua vida em detrimento de valores; aqueles que acreditam e moldam sua vida acreditando nesses seres superiores.
     Nesse momento, você poderia se perguntar: “Ok, mas se para Nietzsche, Niilista é aquele que acredita e exalta seres superiores, valores superiores, então o que eles negam?” Afinal, Niilismo é uma palavra latina que necessariamente envolve Negação a alguma coisa.
     Para Nietzsche, os Niilistas negam a vida. Se na concepção normal o Niilista nega valores, para Nietzsche o Niilista nega A VIDA, O MUNDO DA VIDA! O mundo do que acontece, dos afetos, dos corpos, das energias, das sensações. Em nome do céu, o Niilista nega a terra (blasfemava-se contra a terra); em nome de valores superiores, nega-se os corpos. Negam tudo o que acontece na vida real, pois, ao acreditar em valores superiores que limitam seus desejos e vontades, essas pessoas estão negando a vida o que ela tem a nos oferecer.
     O primeiro filósofo que Nietzsche excomunga é Platão, que ao defender seu mundo das ideias e cuspir no mundo sensível, no mundo em que vivemos, ele acaba negando seu próprio mundo. O mundo que ele vê. Platão, ao defender o mundo das ideias, ou seja, o mundo fora da caverna, mundo este constituído por verdades e valores absolutos e inquestionáveis, ele acaba negando toda a sua vida na terra. Ou seja, ele exalta e vive em detrimento de valores superiores, que não existem em lugar algum, se não em sua mente, para se desfazer e se enojar do mundo em que ele próprio vive e está, o mundo sensível, o mundo que segundo Platão é o mundo imperfeito, cheio de problemas e erros.  Nietzsche, literalmente, manta Platão pra merda em seu livro O Crepúsculo dos ídolos.
     Ainda nesse livro, e ainda sem ser “politicamente correto”, porque ele estava pouco se ferrando com o que os outros diziam ou pensavam sobre o modo como ele se expressava, ele acaba com Sócrates e com Aristóteles. Aristóteles, em sua filosofia cosmológica, dizia que o mundo está pronto e que temos de agir de acordo com ele. Que somos parte de um todo e que temos que estar em harmonia com o resto, e, se o sol brilha e as árvores liberam oxigênio, e as nuvens fazem a chuva e maré “mareia”, portanto devemos ser exatamente o que somos hoje. Eu, no caso, seria um estudante do Direito e seria apenas isso, porque estou em harmonia com o mundo e não posso mudar o estava pressuposto para eu ser.  Ele acaba com essa filosofia porque ele defendia a famosa frase “Deixa a vida me levar”, ou seja, deixa que a vida exponha o que irei fazer, porque nada vai me privar de mudar o meu desejo. O fato de “Deixar a vida me levar” já deixa claro que não acredito em valor superior que irá me prover de qualquer coisa que eu queira, certo?
     
Nietzsche, em outras palavras, acaba com a filosofia aristotélica, acaba com a filosofia platônica, acaba com a filosofia socrática, kantiana e muitas outras. É vibrante e sensível o ódio que Nietzsche sente por eles.
     É com essa introdução que podemos entrar e falar brevemente sobre o Anticristo.
     É em O Anticristo que Nietzsche expõe seu ódio a outro modelo Niilista, que, devo ser claro para todos: o modelo Niilista de Nietzsche! Não o do senso comum. Portanto, nesse livro Nietzsche expõe seu ódio a outro modo de pensamento que, para ele NEGA A VIDA por causa de Valores Superiores, OK? E não para aqueles que simplesmente negam valores superiores, como o senso comum define o Niilismo.
     O título é sugestivo, mas vale dizer mesmo assim. Nesse livro Nietzsche coloca pra fora todo o seu ódio e rancor contra o Cristianismo, sobretudo o Catolicismo, que, segundo ele, é o pior mal da terra!
     Para ele, o Catolicismo é uma negação! Negação à vida, pois torna as pessoas Escravas da Vida! Pois, assim como ele disse: “Os homens inventaram o Ideal para negar o Real”. Para ele, o Catolicismo é uma negação porque promete tudo e não cumpre nada, filosofia completamente contrária a do Budismo, que cumpre tudo e não promete nada. Ele começa o livro deixando claro que o mal da humanidade se chama Compaixão. Compaixão, como alguns devem saber, é definição de AMOR para Jesus Cristo.
     Desde que o homem é homem ele tenta definir o amor, e três foram os filósofos que fizeram isso com alguma perfeição. O primeiro foi Platão que disse que AMOR é o DESEJO POR AQUILO QUE NÃO SE TEM. Ideia essa, brilhante para os dias de hoje, mais moderna e contemporânea impossível para se definir nosso capitalismo. Para Platão, o DESEJO é o AMOR. Nesse sentido, podemos ver que uma ideia de 2 milênios atrás ainda está viva hoje, ao perceber que passamos nossa vida desejando tudo o que não temos, seja o novo carro lançado, ou o novo Iphone. Ou até mesmo aquela mulher que não temos e etc. A famosa frase “A grama do vizinho é sempre mais bonita” define perfeitamente o modelo platônico de se definir o amor.
     Logo depois, vem Aristóteles, dizendo que AMOR não é aquilo que DESEJAMOS, mas sim é a ALEGRIA que sentimos por aquilo que temos. Ou seja, é a alegria que sentimos pela nossa namorada, pelo nosso carro, pelos nossos livros, casa e etc. Mais simples, mas também plausível. Certo?
     O terceiro filósofo que veio para definir o amor, e que também é excomungado por Nietzsche é Jesus de Nazaré. Que disse que o amor não é aquilo pelo que desejamos e não temos, e tampouco é aquilo que sentimos a alegria por ter, mas sim é a Compaixão que sentimento por aqueles que temos empatia. Nietzsche simplesmente se sente enojado pela compaixão. Pelo amor de Cristo. Para ele, a compaixão é contagiosa, e, quando uma pessoa se sente mal por outra, isso contagia e acaba atingindo outras pessoas que nada tem a ver com o problema daquela primeira que não estava em seu melhor momento.
     Portanto, para Nietzsche, não só o Cristianismo, sobretudo o Catolicismo, são nojentos e abomináveis, mas também todas as suas ideias e atitudes. Para ele, os Sacerdotes são as espécies de homens mais escrotas e desgraçadas da humanidade, pois ao repassar o que eles consideravam verdade, eles acabavam corrompendo todo o mundo, porque, ao disseminar sua verdade, eles acabam destruindo seu próprio fundamento.
     É nesse sentido, por exemplo, que Nietzsche diz “Melhorar a humanidade, eis a última coisa que vou prometer”, ou seja, em outras palavras ele diz “Se você espera que vou trazer uma verdade no lugar de todas essas que estou negando, você se fudeu meu caro, pois não tenho nenhuma verdade para lhe trazer e muito menos vou dizer para você deixar de acreditar em tal Deus para acreditar nesse aqui, que vou apresentar pra você”.
     O livro Anticristo é um discurso de ódio contra o cristianismo e o catolicismo, e contra os próprios alemães também, como Lutero por exemplo. Espero que, ao lerem o livro, estejam em um ambiente tranquilo e calmo, e que leiam sem pressa para terminar uma frase ou um parágrafo, porque se não fizerem isso, não vão acabar entendendo nada.
     Quando disse que Nietzsche era negado por 90% da população mundial atual, quis dizer que, para ele, 90% da população hoje é Niilista, ou seja, acredita em Deus, que faz com que essas pessoas se limitem e acabem negando o mundo em que vivem.
     Apesar dessa rejeição toda, espero que, principalmente os Teístas, não deixem de ler a filosofia do Martelo de Nietzsche, que é como ele a nomeava. Pois ele dizia que iria martelar todas ideias ridículas dos Niilistas. Espero que as pessoas leiam a filosofia de Nietzsche com a mente aberta; aberta no sentido de que pode não haver uma verdade absoluta que fará com que você jamais mude de conceito, porque pode haver outras formas de pensamento sim. Em outras palavras, não estou dizendo para os Teístas deixarem de acreditar em Deus, estou dizendo, somente, para eles não se limitarem a lerem uma filosofia brilhante e sensacional, e inteligente também, porque Nietzsche escreve uma poesia para os amantes da leitura, com argumentos muito bem construídos e criados. Nietzsche diz que um dos maiores pecados da humanidade foi o homem ter criado o conceito de pecado. Que, de um momento para o outro, o homem deixou de amar a Deus e passou a temê-lo, e que, desde aquele momento, ele se privou de fazer muitas coisas que acrescentariam bastante ao mundo dele. Uma dessas privações, diria eu, seria ler este livro magnífico.

     Nietzsche apresentou ao mundo uma filosofia que veio para mudar a história da Idade Moderna, seja pelo lado positivo, quando pelo lado negativo. E, para deixar claro, não inventei esses termos de baixo calão; apenas reproduzi o que o filósofo quis dizer.



Algumas frases de Nietzsche:
   “Em vão procurei no Novo Testamento um único traço de simpatia: nele não há nada que seja LIVRE, bondoso, de coração aberto ou leal. Nele, a humanidade não dá sequer um passo adiante...” (página 81, Anticristo).

   “Não nos deixemos enganar: ‘não julgueis’, dizem eles, e, contudo, mandam para o inferno seja o que for que atravesse o seu caminho. Ao deixarem o julgamento para Deus, são eles próprios que julgam; ao glorificarem Deus, glorificam a si próprios...” (página 77, Anticristo)*.

* Nietzsche se refere aos Niilistas, sobretudo os Sacerdotes e Apóstolos do Catolicismo, com ênfase especial no apóstolo Paulo.

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