segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Testamento, por John Grisham

É incrível o que a habilidade de escrita de John Grisham pode fazer com um leitor, porque mesmo sabendo que suas histórias são padrões e que se tratam sempre de Advogados, Juízes, Júris ou qualquer outro profissional da área de Direito, sempre nos envolvemos emocionalmente com os protagonistas das histórias; até mesmo quando não temos a certeza se ele também é o vilão ou não, como acontece em um dos seus melhores romances: O Testamento.
     Já era difícil, na época em que ele publicou esse livro, em 1999, escolher qual de seus livros publicados era o melhor. O Júri, talvez? Que foi adaptado para o cinema com atores como John Cusack e Dustin Hoffmann e rendeu mais de US$ 60.000.000,00 para seus produtores? Ou seria A Firma, adaptado com ninguém mais ninguém menos do que um jovem aspirante à Hollywood, Tom Cruise?
     A verdade é que desde que publicou seus primeiros livros John Grisham ficou conhecido como um autor de respeito, principalmente no mundo literário americano. Stephen King, em sua autobiografia “Sobre a Escrita”, em que, além de narrar brevemente sua vida, dá conselhos para jovens que desejam a serem escritores, usa o nome de John Grisham por diversas vezes. Enquanto narra e mostra exemplos sobre como escrever bem, Stephen King elogia John Grisham diversas vezes, mas o elogia principalmente pelo fato de o até então jovem escritor escrever sobre o que sabia, tornando suas histórias mais verdadeiras e ricas para os leitores. Stephen disse isso porque, como qualquer admirador das obras de Grisham deve saber, o escritor é Advogado e só escreve ficções e não ficções com temas sobre Advocacia.

John Grisham
É dessa forma, então, que apresentaremos a obra O Testamento, que terá um gostinho especial para os brasileiros, pois o livro se passa, em grande parte, sendo narrado com o personagem principal resolvendo problemas “advocatícios” aqui no Brasil. Isso mesmo, no Brasil! Mas daqui a pouco chegaremos lá.
     Os primeiros capítulos do livro são narrados por Troy Phelan, um multibilionário que, com mais de 80 anos de vida, está prestes a morrer e a assinar seu último testamento. Com toda a habilidade de Grisham, Troy nos conta sua vida miserável fora de suas incontáveis empresas. Foram três casamentos mal resolvidos, que criaram seis grandes problemas na vida do grande Troy; seis dos quais estavam ansiosamente esperando sua última assinatura no testamento antes da triste espera para sua morte, que não chegava de jeito nenhum.
    De um jeito até mesmo engraçado,  somos apresentados aos seis filhos de Troy; um pior do que o outro. Todos que receberam suas mesadas aos 21 anos de US$ 5 milhões já haviam perdido tudo; sejam por drogas, jogos, maridos chantagistas, mulheres chantagistas ou por simples burrice. De qualquer forma, como bem é deixado claro, nenhum era digno de receber nenhuma parcela de sua herança, que girava em torno de 11 bilhões de dólares.
     Enquanto Troy responde perguntas rotineiras de três psiquiatras, seus queridos filhos, bem como suas saudosas mulheres, estão no andar de baixo do seu grande império conquistado, esperando para que ele assinasse a porcaria do testamento, deixando aproximadamente meio bilhão para cada um deles.
     Mas não é isso que acontece; pelo menos em partes.
     Troy assina o testamento, mas, logo depois disso, enquanto os psiquiatras deixam a sala de conferência, após terem declarado que ele estava são e com a mente clara para escrever um testamento, Troy rasga o antigo e escreve outro em apenas alguns segundos. Logo depois disso, ele se levanta de sua cadeira de rodas, e se mata, pulando do último andar de seu prédio.
O Testamento - Edição em Inglês
     Isso mesmo. Há muitas pessoas complexadas nesse livro, e você acaba ficando envolvido, se sentindo até mesmo um pouco mal pelas próprias pessoas lá apresentadas. Mas é assim mesmo, esse é o objetivo de Grisham. De qualquer forma, Troy Phelan se mata logo após escrever seu último testamento, que, segundo as leis da Virginia, anula e extingue todos os outros escritos antes daquele.
     O problema era que esse testamento não deixava nada para seus filhos; quer dizer, deixava, mas não para os filhos que todo mundo esperava...
     Troy tinha uma filha ilegítima, Rachel Lane, que, embora tenha nascido nos Estados Unidos, ele obteve informações de que ela era uma missionária e vivia no Pantanal, mais precisamente perto de Corumbá, uma cidade no Mato Grosso do Sul. Em seu testamento, ele deixa seus ligeiros 11 bilhões de dólares para ela.
     É nesse contexto que a história começa e o protagonista dela nos é apresentado: Nate O’Riley, também advogado e, adivinhem? Também complexado, com dois casamentos mal resolvidos, quatro filhos que mal falam com ele, e, para piorar, que beirou a morte por diversas vezes por ser um alcoólatra. Na última vez em que teve a recaída, foi encontrado quase morto em um motel, após ter dirigido bêbado por horas com seus dois filhos mais novos no carro.
   Acho que é meu objetivo passar essa imagem ruim dos personagens do livro pelo simples motivo de que eles eram realmente desse jeito; mas como todo livro de Grisham, podemos esperar que pelo menos alguns deles vão valerem a pena. O que acontece é que Nate, o mesmo viciado de sempre, e amigo de Josh Stafford, advogado de Troy, é tirado da reabilitação para poder tentar encontrar a Rachel Lane, herdeira do testamento de seu pai.
     De qualquer forma, para não me prolongar tanto, Nate viaja para o Brasil; e é muito legal ver um livro estrangeiro com cenário brasileiro. É legal também pelo fato de eu mesmo nunca ter ido ao Pantanal ou ao Mato Grosso do Sul. Embora Grisham tenha judiado um pouquinho das aventuras que Nate passou por aqui, sinto que ele cumpriu seu dever ao descrever nosso país. É legal também, para aqueles que leram o livro original, em Inglês, saber as palavras em Português que Grisham escreveu e traduziu.
     De qualquer maneira, Nate embarca em uma aventura aqui no Brasil. Ele explora o Pantanal durante a época de cheia e de chuvas e passa por tantas coisas que faz com que ele reflita sobre sua vida e sobre suas decisões. Ele cai de avião. Passa durante uma tempestade nos rios do Pantanal, perde todos os seus documentos, roupas e telefones. É pego por uma das doenças mais atuais no Brasil, a dengue! (Lembrando que o livro foi escrito em 1999). E, para finalizar com gostinho do improvável John Grisham, ele conhece Rachel Lane, a primeira mulher que viu algo de bom nele em muitos anos.
     Digamos que: e se ela fosse capaz de mudar completamente um americano, com instinto capitalista, que beirava a agonia para ir embora daquela floresta? E se, essa mesma mulher, formada em Medicina, que deixou tudo para trás e foi morar com os Ipicas, índios daquela região, rejeitasse sua herança?
     Mas, acima de tudo, e se essa mulher conseguisse convencer esse americano que tudo o que ele sempre viveu foi uma mentira?
     Assim como todo livro de John Grisham, vocês, leitores, tem todo o direito de esperar por reviravoltas. Por mudanças de atitude. De opinião. Principalmente, tem o direito de acreditar que as pessoas podem mudar.
     O Testamento é um dos melhores livros de John Grisham, não por ser tão verdadeiro quanto os outros, mas por ser tão intenso e penetrante como nenhum outro. O que acontece com Nate O’Riley é tão sensacional que todas as suas dores e agonias são passadas para nós; mas, como a tristeza não pode vim sem uma alegria, segundo as regras de Grisham, também tivemos o privilégio de sorrir quando Nate se sentiu em paz.

Link do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=LWItBfrNkIc&feature=youtu.be

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